O que devo responder quando alguém pergunta se eu to bem, mas a resposta tá além do sim e do não, em um lugar que nem eu mesma compreendo a resposta?
Sim: é mentira, porque a resposta não tá na categoria de dualidade
Não: é mentira também, porque, além de estar fora da categoria de dualidade, vai provocar uma contra-resposta que não vou saber e nem querer responder.
Mais ou menos: não existe meio termo; isso seria como um sem sensação, numa escala linear indo do sim até o não, mas a escala não é essa, inclusive não existe escala. Estando além da dualidade, não existe meio termo.
Melhorando: implica que estava mal e que agora estou ficando bem. De fato não é um estado agradável, mas que ele passe não significa exatamente uma melhora. Pode ser um processo.
To em processo: alguém vai perguntar que processo, ou o que aconteceu. Essas respostas são complexas demais pra serem ditas, isso quando é possível saber e expressar.
To assimilando: alguém vai perguntar assimilando o quê, ou o que aconteceu. Mesma coisa.
Parece que todas as respostas possíveis vão implicar em uma mentira ou uma contra-resposta em que eu vou precisar explicar algo. A maioria das pessoas ou não quer saber, ou não vai ser capaz de entender. Não vale a pena gastar palavras, energia, sinceridade, pra qualquer um desses dois casos.
O melhor é ser sutil, não demonstrar bruscamente o que está acontecendo, que é o que ando fazendo. Acabo praticamente correndo pra outro lado, seguindo minha intuição do buscar um lugar em que as coisas estejam passando da forma mais próxima possível do contexto que sinto que preciso estar. Isso leva a essas perguntas. Ao mesmo tempo, fingir que tá tudo bem e agir normalmente é o que sempre fiz a vida toda. Como conciliar isso?
Não preciso demonstrar, mas não preciso mentir. Posso agir de forma mais tranquila e sumir da situação, sem causar espanto e até sem ser percebida. Se perguntarem outro dia, melhor, aí vou ter mais capacidade de responder.
Se eu to bem?
Não sei.
Essa é outra resposta que causa dúvida em quem ouve, e causa também uma culpa de não saber explicar o que a pessoa quer saber. Se respondem perguntando: como assim? É quase obrigatório dar a explicação de por que eu não sei. Mas essa explicação simplesmente não existe, eu não sei porque não sei, eu faço terapia porque não sei e mesmo assim não descubro, e, sinceramente, tem coisas que a gente não precisa saber, nem nós mesmos e nem nenhum outro.
É tudo tão complexo. Acho que essa foi a melhor forma de expressar o que to sentindo.
No fim, qualquer coisa que não for um sim não vai ser bem recebida. É como se não pudesse existir outro estado além do bem, que é o estado desejado e desejável que todos estejam. Como explicar que não é preciso estar bem, mas que isso não significa que não esteja tudo bem/esteja tudo mal?
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