O dois e o oito: ambos números de equilíbrio. Nunca tinha me dado conta de como essas duas cartas de Marselha são tão parecidas até tirá-las conjuntamente como um conselho. A intenção era apenas uma carta, como peço a cada entrada de lunação, mas dessa vez, sem perceber, peguei duas como sendo uma só e apenas aceitei porque o tarô nunca erra em seus sinais. Foi um espanto perceber dois arcanos maiores, algo que não acontece tão frequentemente considerando a relação de quantidade entre estes e os menores. E ainda dois tão semelhantes.
A mensagem demorou um pouco pra aparecer, e veio a partir das comparações. Primeiro as semelhanças: o manto azul sobre o vestido vermelho, os pés cobertos, as mãos segurando algo à frente, o dourado dos adornos, as coroas, a posição sentada, o rosto sereno, o objeto cadeira/manto atrás da personagem em formato parecido. Depois, as diferenças, mais sutis: os objetos diversos nas mãos, sendo um livro na sacerdotisa e uma espada e uma balança na justiça, a direção do olhar, para a esquerda ou para a frente, a fluidez ou rigidez do plano de fundo, o número.
Como força yin, as duas chamam o olhar para nós mesmos, para os próprios processos internos ou, mesmo quando externos, baseados na subjetividade. Meu recado da semana foi pra ler o livro de mim mesmo, olhando pra dentro e imergindo nos meus sentimentos e fantasias, e a partir disso observar e avaliar, com coragem e parcimônia, o que fica e o que deve ir.
Um recado especial me deram os planos de fundo das duas cartas: enquanto a Sacerdotisa tem uma cortina solta, com ondas e curvas, a Justiça tem uma cadeira perfeitamente sóbria e simétrica. Essas formas lembram asas, o que me mostra pra viajar nesse material interno, pra voar por todos os cantos de mim, me permitindo planar pra fazer essa observação e avaliação atenta. Sinto também o recado de organizar esse material amplo, que é bagunçado nas primeiras asas que olham pra trás e organizado nas asas que olham pra frente, impelindo a uma clareza de visão, assim como o terceiro olho na fronte.
Outras mensagens de internalização aparecem nos pés, que na verdade não aparecem, e no manto azul que recobre o vermelho. É pra que eu voe cobrindo a racionalidade e sem os pés no chão; que a história desse livro da vida possa ser lida com a intuição, pra isso usando a coragem e as ferramentas disponíveis pra trazer o equilíbrio. Mas que seja fluido como os panos, como as águas, como uma balança estabilizando um peso, como um vento que sacode asas, como as ondas que o inconsciente traz de fundos tão fundos.
São sábias mulheres que muito ensinam em suas figuras tão estáticas de papel e tinta, mas tão móveis em todos os olhares e sentidos que nos podem trazer.