terça-feira, 8 de agosto de 2023

São Paulo.

Chorei quando meus pés levantaram voo, e assim iniciei a viagem. Não eram lágrimas de tristeza, nem de felicidade; não eram também de saudade, nem de medo ou arrependimento. Foi tão natural e espontâneo que, naquele momento, quis chorar a viagem inteira. É algo tão raro de se acontecer comigo que me senti até feliz de estar molhando o rosto enquanto olhava pela janela para a asa do avião. 

É ao mesmo tempo tão estranho e tão normal estar em um lugar novo... Por um tempo parece inacreditável a ideia de ir pra uma cidade distante e desconhecida, parece que não tem como existir algo tão distinto, espaços tão distantes. Depois, esse sentimento passa. Chegando, parece tão normal: qualquer lugar é um lugar como qualquer outro, a única diferença é que é outro lugar. Apesar disso, não se dissolve o encantamento de ver algo nunca antes visto; mas justamente por ser um lugar qualquer, assim como o que nos originamos e qualquer outro que já passamos na vida, traz o brilho de algo à primeira vista mesmo pra o que nos é corriqueiro. 

Acho isso algo bonito das primeiras impressões. Pelo menos pra mim, me faz valorizar o que sempre vejo, e buscar sempre por alguma novidade. Tudo é tão parecido e tão diferente ao mesmo tempo que de imediato sinto como se eu já fizesse parte do que acontece, seguindo os fluxos naturalmente como se me fosse comum. Ando como se soubesse pra onde estou indo, com uma grande confiança que não coloquei na bagagem mas, mesmo assim, sempre anda comigo.

Assim segui os caminhos dos que andavam à minha frente, sabendo que iria chegar onde devia mesmo que não existisse tal chegada. Com mochilas pesadas e um desajeito natural de quem possui pouca experiência em carregar esse tipo de peso, fui guiada por calçadas, ônibus, trem, escadas rolantes, turbilhões de gentes. Nunca na vida tinha visto tantas pessoas e não imaginava que existia um local assim tão grande, tão difícil de assimilar. Fui seguindo, entendendo como as massas possuem influência. Difícil seguir contra essa força. 

Só por um lado. Por outro, enquanto segue a torrente horizontal de passos e passos, algo multilateral chama o olhar para ser descoberto, todos os espaços mostrando sua magnitude. Só tendo os olhos abertos pra ver beleza na loucura cotidiana, e só com um pouco de loucura é que se tiram as raízes do chão para que caminhem e voem em novos lares.

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