quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Controle.

As frustrações chegam a partir de uma necessidade de controle, quando esse algo planejado não funcionou da maneira esperada. Passei aprendizados importantes sobre isso nos últimos dias quando pude ressignificar uma frustração a partir do sentimento de outras pessoas que estavam presentes no momento.

Fui dar um curso sobre viveirismo comunitário, mas senti que as pessoas que estavam lá não entenderam o que é o trabalho de um viveirista e quais são as etapas desse processo. Confundem viveirismo com trabalho de horta, com cultivo não compreendem a produção de mudas com fim nisso e percebem o coletivo e comunitário como pessoal. 

Na metade do dia, só me deitei na rede e fiquei pensando sobre a frustração que estava sentindo em relação ao não entendimento do que eu falava, e também dos empecilhos à atenção que estavam acontecendo. No meio da parte prática do curso, quando era pra todos experimentarem os processos, a metade do pessoal se distraiu fazendo uma fogueira no meio do espaço, o que atrapalhou muito a nossa dinâmica e tirou a atenção do que realmente importava ali. Na minha opinião do momento, porque inclusive o que realmente importava se modificou.

Foi muito frustrante pra mim, principalmente por pensar que era uma responsabilidade que eu não precisava ter tido; era algo que eu devia ter deixado de lado, mas, por outro lado, não teria acontecido se eu tivesse feito isso porque a nossa anfitriã fez de tudo pra que eu estivesse presente. De qualquer forma, foram esses sentimentos que me tomaram e me desanimei muito da continuidade do curso naquela tarde, me senti completamente sem energia e querendo desistir, deixando o resto pros meus colegas que estavam ali.

Mas não desisti e me coloquei pra falar o que eu achava necessário na continuidade do curso, já que quando incentivei minha colega a falar ela não colocou o que eu achava ser necessário naquele momento. E depois disso, que foi um resumo de tudo o que tínhamos apresentado sobre viveirismo, começamos uma roda de conversa sobre o que cada um achou do curso, e nesse momento precisei ressignificar o que tinha sentido.

Então foi algo muito intenso pra todo mundo, esse momento de partilha e troca. Pareceu que todo mundo gostou, e que ficaram pessoalmente tocados pelo curso e pela forma com que levamos ele. Pegaram as informações pra si de forma profunda, entraram em conexão com algo importante. E esse algo não foi exatamente o que passamos, mas foi importante o suficiente pra ficar. O que importou não foi o ensinamento em si, mas sim o que cada um absorveu dele, à sua maneira de acordo com suas vivências, e isso não pode ser frustrante. É, no fim, o que realmente importa.

Talvez o viveirismo não faça sentido pra todas aquelas pessoas. Acho que de fato não faz, ou pelo menos não de forma completa, talvez alguns fragmentos usados dentro do que cada um faz e sente. E isso é o bonito de ensinar, a intenção é que se construa o conhecimento único de cada um, sem certo ou errado e sem a ideia do conhecimento na folha em branco. Não é possível de forma alguma controlar o que o outro aprende, escuta, sente, ressignifica, absorve, deixa passar. E a intenção de trabalhar com comunidades é justamente essa, a de criar novas coisas, novas formas de agir, de ver o mundo, de sentir as experiências e gerar possibilidades.

Percebi como costumo querer controlar o que acontece, como não aceito que as coisas saiam fora do meu planejamento. E é justamente isso, a falta de controle, a aleatoriedade, as diferenças, as perspectivas, que tornam a vida e a convivência tão lindas. 

Deixei de sentir a frustração em relação ao objetivo primeiro do curso, que não foi atingido, mas aprendi que o objetivo desse trabalho, na verdade, é outro, muito além do que eu imaginava. E que é nesse objetivo que tenho que trabalhar, com as possibilidades abertas, sem controle, e me permitindo amolecer. 

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