me senti confortável na casa do luis e pensei em como me senti na casa do tobi. talvez o que eu sinta assim, em viagem, é o conforto de não estar com nenhum compromisso e poder descansar e passar um dia tranquilo, sem pressões. fora da minha própria casa, não tenho que cuidar de nada além de mim mesmo. quem sabe é esse o meu sonho de conforto, poder me desligar de tudo por fora de mim mesmo no lugar onde tudo o que me ronda habita juntamente comigo.
domingo, 20 de agosto de 2023
me siento confundida por aqui; se me parece que a cada día que pasa quedo peor en el idioma y comprendo peor lo que me dicen. también siento más dificultad en respirar, mucho cansancio, me cuesta despertar todos los dias por las mañanas. no sé si es por la altitud, por que estoy comiendo poco, si tiene que ver con el clima, la falta de lluvia, el sol tan fuerte que me quema a toda mi cara haciéndome descamar, arder, doler. no tengo convicción. ahorita quisiera salir, pero como se ofrecieron a acompañarme he cambiado mi idea, quedándome en el hotel. no sé también lo que es ansiedad y lo que es adaptación a un nuevo lugar. tal vez un poco de los dos, pero cómo separar las sensaciones? tengo que escribir más. al menos mi terapia es el jueves.
talvez seja também um pouco de tristeza, mesmo que não me pareça. ou falta de vitaminas, que causa tristeza. ou a loucura dos antidepressivos, de decidir tomar o ansiolítico e depois decidir não tomar mais. ou o excesso de mate, misturado com um pouco de tudo. falta de comida, falta de vitamina, irregularidade no antidepressivo, altitude, confusão linguística, cansaço, antibiótico, vinho, marijuana, o estranhamento de não estar mais sendo a pessoa solitária que sempre fui. agora me deu uma vontadezinha de chorar, o que seria ótimo se eu conseguisse. tem algo na minha garganta, como sempre. estou o tempo todo levando choques nas pessoas e objetos.
es raro.
sinto como sou uma pessoa solitária. me estranha muito estar sempre entre pessoas, sempre esperar uns aos outros pra fazer coisas juntos, mudar de ideia conforme a decisão conjunta. ando passando momentos muito compartilhados, mais do que já tive em qualquer outro período da vida. por um lado, foi o que eu já tanto quis em certos momentos; por exemplo, quando morava junto com pessoas que apenas dava oi, bom dia, e nada mais que isso. sempre quis morar com alguém que compartilhasse os momentos comigo. antes de viajar pra cá, tinha isso em parte, mas agora é completo: reparto o quarto com alguém, tem mais duas pessoas com as quais combinamos tudo, almoçamos juntos, jantamos juntos, tomamos café da manhã juntos, estudamos juntos, saimos pra passear juntos. não todos o tempo todo, mas alguém todo o tempo.
é estranho pra mim esperar pra combinar de ir no mercado, na academia, na loja de roupas. me acostumei a fazer as coisas sozinha, ter essa independência. e gosto muito de chegar em um lugar e explorar sozinha, fazer o que quero sem precisar esperar nem combinar com ninguém. não queria que viessem me buscar no terminal de ônibus pra que eu pudesse sair caminhando sem saber pra onde estava indo e chegar com a surpresa de não me ter perdido. gosto também de me perder em segurança, porque quando to com alguém dependo dessa pessoa pra que me leve aos lugares e não olho direito os caminhos.
aqui tem também a coisa da segurança. nos dizem o tempo todo pra tomar cuidado, pra não saírmos sozinhos, e sei que tem razão, afinal dois dos intercambistas aqui foram assaltados nas ruas em poucos dias sem ser à noite. sinto que se eu sair sozinha, nem que seja pra ir ao mercado, alguém vai me reprimir e dizer que estava correndo riscos. isso também não me agrada, mas não me agrada ser dependente de outra pessoa pra algo simples como dar uma caminhada na quadra.
tá sendo diferente. gosto das integrações, mas me sinto distante porque não consigo compartilhar na mesma intensidade que os outros. mesmo assim, me sinto bem de estar junto, mas sinto falta dos meus momentos sozinha. agora, que sentei pra escrever, to com tanto sono e cansaço que não é como se eu realmente tivesse tirado meu tempo. quero caminhar, pegar a bicicleta do hotel, ir na academia, comprar minhas coisas no mercado. não desgosto de nada, mas estranho a tantas coisas. ao mesmo tempo, parece tudo completamente normal.
terça-feira, 8 de agosto de 2023
São Paulo.
Chorei quando meus pés levantaram voo, e assim iniciei a viagem. Não eram lágrimas de tristeza, nem de felicidade; não eram também de saudade, nem de medo ou arrependimento. Foi tão natural e espontâneo que, naquele momento, quis chorar a viagem inteira. É algo tão raro de se acontecer comigo que me senti até feliz de estar molhando o rosto enquanto olhava pela janela para a asa do avião.
É ao mesmo tempo tão estranho e tão normal estar em um lugar novo... Por um tempo parece inacreditável a ideia de ir pra uma cidade distante e desconhecida, parece que não tem como existir algo tão distinto, espaços tão distantes. Depois, esse sentimento passa. Chegando, parece tão normal: qualquer lugar é um lugar como qualquer outro, a única diferença é que é outro lugar. Apesar disso, não se dissolve o encantamento de ver algo nunca antes visto; mas justamente por ser um lugar qualquer, assim como o que nos originamos e qualquer outro que já passamos na vida, traz o brilho de algo à primeira vista mesmo pra o que nos é corriqueiro.
Acho isso algo bonito das primeiras impressões. Pelo menos pra mim, me faz valorizar o que sempre vejo, e buscar sempre por alguma novidade. Tudo é tão parecido e tão diferente ao mesmo tempo que de imediato sinto como se eu já fizesse parte do que acontece, seguindo os fluxos naturalmente como se me fosse comum. Ando como se soubesse pra onde estou indo, com uma grande confiança que não coloquei na bagagem mas, mesmo assim, sempre anda comigo.
Assim segui os caminhos dos que andavam à minha frente, sabendo que iria chegar onde devia mesmo que não existisse tal chegada. Com mochilas pesadas e um desajeito natural de quem possui pouca experiência em carregar esse tipo de peso, fui guiada por calçadas, ônibus, trem, escadas rolantes, turbilhões de gentes. Nunca na vida tinha visto tantas pessoas e não imaginava que existia um local assim tão grande, tão difícil de assimilar. Fui seguindo, entendendo como as massas possuem influência. Difícil seguir contra essa força.
Só por um lado. Por outro, enquanto segue a torrente horizontal de passos e passos, algo multilateral chama o olhar para ser descoberto, todos os espaços mostrando sua magnitude. Só tendo os olhos abertos pra ver beleza na loucura cotidiana, e só com um pouco de loucura é que se tiram as raízes do chão para que caminhem e voem em novos lares.
Fecha a janela, esteja consigo; não há nada lá fora que te demande. A demanda de dentro ela existe, mas mesmo assim não te demanda; é só porque quer, e ela quer que tu queira. E tu, tu quer querer? Abre teus olhos pra dentro, abre teus olhos pra ti; qual o benefício de evitar o que realmente te faz bem? Me conta porque não existe vontade de assoprar tua chama interior pra que a brasa se espalhe e vire realmente um fogo. Tua fogueira aquece e não queima, se alimenta transformando a estagnação, e a cada piscada de olhos que tu dá em direção a ela é mais uma faísca que te acende. Faz faíscas, expande essa luz: queira. Mas queira sem compromisso, e, antes mesmo de querer, faça. Acende tudo aquilo que não fala, mas que vibra por dentro de um jeito incontrolável que tu tenta controlar. Ninguém sabe melhor do que tu que é impossível deter esse movimento, então deixa ele ser. Nada que vem de dentro vai estar errado. Te deixa ser.
Emocionada.
Me sinto tão pouco emocionada em relação às coisas que acabo pensando que tem algo errado comigo. Como alguém pode sentir mais intensamente que eu uma felicidade que devia ser minha? Penso se não dou tanto valor pras coisas, ou se é tudo tão normal pra mim que nada me surpreende o bastante.
Por outro lado sempre busquei algo assim. Quando era criança julgava as outras crianças que ficavam chorando ou rindo alto, não achava necessário e não queria ser assim. Hoje já tento imitar um pouco as expressões das pessoas, mas parece que nunca atinjo o que realmente deveria expressar. Acabo me envergonhando um pouco, e tentando imitar mais. O quanto to me afastando ou aproximando de mim mesmo com isso?
Ando tentando colocar sentido em coisas que nunca vi sentido algum, mas acaba sendo mais um dessignificar tirando de um extremo e colocando em um espaço neutro. Já fui contra muitas coisas, agora já não sou mais. Com isso, quem sabe fico ainda menos emocionada.
Gosto dos sentimentos, consto das emoções, gosto das sensações, mas não parece que tenho intensidades. Pelo menos não as instantâneas, e sim as que se desenvolvem ao longo do tempo. Parece que demoro pra assimilar o que acontece. Parece que minha forma mais instantânea de reagir é ficando com dúvida. O que isso significa?
quarta-feira, 2 de agosto de 2023
Amolecer.
Controle.
As frustrações chegam a partir de uma necessidade de controle, quando esse algo planejado não funcionou da maneira esperada. Passei aprendizados importantes sobre isso nos últimos dias quando pude ressignificar uma frustração a partir do sentimento de outras pessoas que estavam presentes no momento.
Fui dar um curso sobre viveirismo comunitário, mas senti que as pessoas que estavam lá não entenderam o que é o trabalho de um viveirista e quais são as etapas desse processo. Confundem viveirismo com trabalho de horta, com cultivo não compreendem a produção de mudas com fim nisso e percebem o coletivo e comunitário como pessoal.
Na metade do dia, só me deitei na rede e fiquei pensando sobre a frustração que estava sentindo em relação ao não entendimento do que eu falava, e também dos empecilhos à atenção que estavam acontecendo. No meio da parte prática do curso, quando era pra todos experimentarem os processos, a metade do pessoal se distraiu fazendo uma fogueira no meio do espaço, o que atrapalhou muito a nossa dinâmica e tirou a atenção do que realmente importava ali. Na minha opinião do momento, porque inclusive o que realmente importava se modificou.
Foi muito frustrante pra mim, principalmente por pensar que era uma responsabilidade que eu não precisava ter tido; era algo que eu devia ter deixado de lado, mas, por outro lado, não teria acontecido se eu tivesse feito isso porque a nossa anfitriã fez de tudo pra que eu estivesse presente. De qualquer forma, foram esses sentimentos que me tomaram e me desanimei muito da continuidade do curso naquela tarde, me senti completamente sem energia e querendo desistir, deixando o resto pros meus colegas que estavam ali.
Mas não desisti e me coloquei pra falar o que eu achava necessário na continuidade do curso, já que quando incentivei minha colega a falar ela não colocou o que eu achava ser necessário naquele momento. E depois disso, que foi um resumo de tudo o que tínhamos apresentado sobre viveirismo, começamos uma roda de conversa sobre o que cada um achou do curso, e nesse momento precisei ressignificar o que tinha sentido.
Então foi algo muito intenso pra todo mundo, esse momento de partilha e troca. Pareceu que todo mundo gostou, e que ficaram pessoalmente tocados pelo curso e pela forma com que levamos ele. Pegaram as informações pra si de forma profunda, entraram em conexão com algo importante. E esse algo não foi exatamente o que passamos, mas foi importante o suficiente pra ficar. O que importou não foi o ensinamento em si, mas sim o que cada um absorveu dele, à sua maneira de acordo com suas vivências, e isso não pode ser frustrante. É, no fim, o que realmente importa.
Talvez o viveirismo não faça sentido pra todas aquelas pessoas. Acho que de fato não faz, ou pelo menos não de forma completa, talvez alguns fragmentos usados dentro do que cada um faz e sente. E isso é o bonito de ensinar, a intenção é que se construa o conhecimento único de cada um, sem certo ou errado e sem a ideia do conhecimento na folha em branco. Não é possível de forma alguma controlar o que o outro aprende, escuta, sente, ressignifica, absorve, deixa passar. E a intenção de trabalhar com comunidades é justamente essa, a de criar novas coisas, novas formas de agir, de ver o mundo, de sentir as experiências e gerar possibilidades.
Percebi como costumo querer controlar o que acontece, como não aceito que as coisas saiam fora do meu planejamento. E é justamente isso, a falta de controle, a aleatoriedade, as diferenças, as perspectivas, que tornam a vida e a convivência tão lindas.
Deixei de sentir a frustração em relação ao objetivo primeiro do curso, que não foi atingido, mas aprendi que o objetivo desse trabalho, na verdade, é outro, muito além do que eu imaginava. E que é nesse objetivo que tenho que trabalhar, com as possibilidades abertas, sem controle, e me permitindo amolecer.