Essa semana saí com um amigo que me perguntou se já fiz jejum, e começamos a falar sobre isso. Ele tá fazendo jejum com alguma regularidade, intermitente todos os dias e às vezes passar o dia todo sem comida, já chegou em um máximo de 60 horas. Me causou bastante curiosidade, por ser algo que nunca tinha ouvido falar assim por alguém próximo.
Ele me disse que se sente melhor, e passa a pensar coisas que antes não pensava. Passa a questionar os desejos, a pensar se quer mesmo algo ou se é só um costume ou um vício. Também passa a perceber melhor as coisas que fazem bem e as que fazem mal, e isso tudo não só em relação à comida.
Achei muito interessante toda essa mudança, lembrando também que o primeiro livro em espanhol que li foi Siddharta de Herman Hesse. Lembrando também que parei de comer carne pelo mesmo motivo que ele decidiu fazer seu primeiro jejum, ou seja, pra testar algo que leu em algum lugar e ver como afeta seu próprio corpo.
Falei pra ele do quanto teve uma época da minha vida em que eu estudava budismo, taoismo e comia só o necessário. Nessa época parei de comer doces, porque percebi que eu tinha um vício incontrolável de comer obrigatoriamente um chocolate depois de cada refeição, e que quando parei, percebi que era só um costume e não um desejo real, um vício do corpo que me condicionava.
Falei pra ele também do quanto eu, atualmente, tenho compulsão alimentar por causa de ansiedade e tristeza. Quando sinto isso, preciso comer algo ou muito doce ou muito salgado sem parar, e não é porque me faz bem, é só porque preciso fazer esse movimento de trazer algo à boca e mastigar, um movimento físico pra tentar esquecer o que tá me fazendo mal. E depois não me sinto bem, só sinto o corpo inchado e cheio, muito mais do que seria o suficiente.
Falei que, quando to ansiosa, bebo muita água. Quando to numa conversa desagradável, quando tenho que pensar coisas difíceis, tomo água compulsivamente, em um intervalo de poucos minutos preciso de muitos goles mesmo se não to com sede. E acabo com isso ficando com ainda mais sede, e ainda mais ansiosa.
Hoje passei toda a manhã sem comer e percebi algumas etapas. Primeiro vem a fome, e se tem que ignorar ela. Com isso vem uma certa fraqueza, uma certa preguiça, que também se tem que superar. Depois parei de sentir fome e senti meu corpo mais leve, justamente por não ter ingerido nada. Então me veio uma energia que me fez terminar os estudos que eu tinha pra fazer e realizar exercícios físicos, algo que nunca faço quando to com fome ou quando penso que em breve posso passar a estar com fome justamente porque imagino que vou ficar mal e sentir fraqueza. Não senti nada disso, só uma satisfação. E então fui almoçar, o que me foi meio difícil. Tinha fome, mas não vontade de comer. Não seria difícil passar mais algumas horas sem uma refeição.
Então lembrei de quando passei mal por intoxicação alimentar. Foi o momento que mais fiquei mal na minha vida, graças às bactérias estrangeiras. Passei uma semana inteira com diarreia, sem conseguir comer nada, e, sempre que tentava, era um esforço muito grande que não funcionava. Depois de alguns dias sem comer absolutamente nada, depois disso alguns dias comendo uma ou duas maçãs por dia, eu já tava bem o suficiente pra comer mas não queria. Não parecia que entrava comida, eu mal sentia fome. Não sentia nada, e podia seguir meus dias assim. Mas, nessa altura, eu não podia seguir sem comer porque tava extremamente fraca por causa da intoxicação.
Pensei como me acostumei nesses dias com a falta de comida, mesmo que não fosse por vontade própria e mesmo que, nesse contexto, me estivesse fazendo mal. Mas sinto que por vontade própria pode funcionar desse jeito também, assim como temos o costume de comer demais, podemos criar o costume de comer o suficiente, de comer pouco ou de não comer.
A ansiedade que sinto já é crônica, vivo com isso há pelo menos 15 anos e melhora um pouco e depois piora, são sempre ciclos em que nunca passa, eu nunca não to sentindo isso. Sinto que posso ter encontrado uma ferramenta pra lidar com meu maior problema, e isso me deixa muito feliz. Sinto que isso pode ser uma maneira de encontrar espaços escondidos de mim, se limpar o corpo, sentir mais leveza e ter mais fluidez no pensar e sentir. Acredito no que esse amigo me disse, em relação a questionar suas ações e pensamentos e se aproximar mais de quem se é. Já sinto que morando em outro país me aproximo mais de quem eu sou e descubro muitas coisas novas e inesperadas de mim mesmo. Agora, além de todas as outras, tenho mais uma ferramenta pra testar.
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