domingo, 31 de dezembro de 2023

amor.

queria lhes fazer entender as diferentes possibilidades do amor.

ando pensando...

não posso aceitar que seja errado fazer o que se deseja. até que ponto ser tu mesmo pode ser prejudicial a outro?

lhes digo a verdade, mas não me querem creer.

e que faço se não acreditam na minha verdade?

não posso fazer nada se entendem meus sinais de maneira equivocada; assim sou, e não quer dizer que meu discurso perca o significado.

o amor perdeu o sentido de exclusividade pra mim; quando passei a amar meus amigos, a ver pessoas com as quais não tenho um relacionamento romântico como uma possibilidade de alguém pra amar, sem essa exigência, tudo mudou.

e, com isso, também posso sentir amor por alguém que me envolvo, sem a pressão de uma relação.

mas isso é difícil de entender aos outros... 

existem só duas opções de respostas pro meu jeito de agir: uma é pensar que to apaixonada e por isso tentam induzir a uma relação, e o outro é pensar que to apaixonada e por isso fugir de mim.

de fato to apaixonada; nesse momento do amor, tudo que tenho é sentimento e ofereço tudo que tenho

se não é pra ser completo,

se não é pra ser intenso,

prefiro que não passe nada.

e de fato amo com todo meu corpo, com todos os beijos e carinhos, com toda a profundidade das conversas e com tudo que posso oferecer de bom;

podem pensar que então não significa nada, mas penso justo o contrário

é justo por ser tão intenso e lindo,

justo por ser tão verdadeiro, sem julgamentos e sem intenções,

justo por isso é valioso e gera conexões importantes.

pensar em um amor livre não é sobre estar com muitas pessoas, nem sobre ser infiel, nem sobre não se importar com sentimentos e relações

pensar em um amor livre é justamente sobre saber amar sem centralizar o sentimento

e saber direcionar as emoções pro momento, aproveitando todas as possibilidades da conexão

sem excluir a possibilidade de que é possível se apaixonar de diversas maneiras

com cada amor diferente trazendo uma forma de relação

sempre única, sempre especial


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Ayuno.

Essa semana saí com um amigo que me perguntou se já fiz jejum, e começamos a falar sobre isso. Ele tá fazendo jejum com alguma regularidade, intermitente todos os dias e às vezes passar o dia todo sem comida, já chegou em um máximo de 60 horas. Me causou bastante curiosidade, por ser algo que nunca tinha ouvido falar assim por alguém próximo.

Ele me disse que se sente melhor, e passa a pensar coisas que antes não pensava. Passa a questionar os desejos, a pensar se quer mesmo algo ou se é só um costume ou um vício. Também passa a perceber melhor as coisas que fazem bem e as que fazem mal, e isso tudo não só em relação à comida.

Achei muito interessante toda essa mudança, lembrando também que o primeiro livro em espanhol que li foi Siddharta de Herman Hesse. Lembrando também que parei de comer carne pelo mesmo motivo que ele decidiu fazer seu primeiro jejum, ou seja, pra testar algo que leu em algum lugar e ver como afeta seu próprio corpo.

Falei pra ele do quanto teve uma época da minha vida em que eu estudava budismo, taoismo e comia só o necessário. Nessa época parei de comer doces, porque percebi que eu tinha um vício incontrolável de comer obrigatoriamente um chocolate depois de cada refeição, e que quando parei, percebi que era só um costume e não um desejo real, um vício do corpo que me condicionava.

Falei pra ele também do quanto eu, atualmente, tenho compulsão alimentar por causa de ansiedade e tristeza. Quando sinto isso, preciso comer algo ou muito doce ou muito salgado sem parar, e não é porque me faz bem, é só porque preciso fazer esse movimento de trazer algo à boca e mastigar, um movimento físico pra tentar esquecer o que tá me fazendo mal. E depois não me sinto bem, só sinto o corpo inchado e cheio, muito mais do que seria o suficiente.

Falei que, quando to ansiosa, bebo muita água. Quando to numa conversa desagradável, quando tenho que pensar coisas difíceis, tomo água compulsivamente, em um intervalo de poucos minutos preciso de muitos goles mesmo se não to com sede. E acabo com isso ficando com ainda mais sede, e ainda mais ansiosa.

Hoje passei toda a manhã sem comer e percebi algumas etapas. Primeiro vem a fome, e se tem que ignorar ela. Com isso vem uma certa fraqueza, uma certa preguiça, que também se tem que superar. Depois parei de sentir fome e senti meu corpo mais leve, justamente por não ter ingerido nada. Então me veio uma energia que me fez terminar os estudos que eu tinha pra fazer e realizar exercícios físicos, algo que nunca faço quando to com fome ou quando penso que em breve posso passar a estar com fome justamente porque imagino que vou ficar mal e sentir fraqueza. Não senti nada disso, só uma satisfação. E então fui almoçar, o que me foi meio difícil. Tinha fome, mas não vontade de comer. Não seria difícil passar mais algumas horas sem uma refeição.

Então lembrei de quando passei mal por intoxicação alimentar. Foi o momento que mais fiquei mal na minha vida, graças às bactérias estrangeiras. Passei uma semana inteira com diarreia, sem conseguir comer nada, e, sempre que tentava, era um esforço muito grande que não funcionava. Depois de alguns dias sem comer absolutamente nada, depois disso alguns dias comendo uma ou duas maçãs por dia, eu já tava bem o suficiente pra comer mas não queria. Não parecia que entrava comida, eu mal sentia fome. Não sentia nada, e podia seguir meus dias assim. Mas, nessa altura, eu não podia seguir sem comer porque tava extremamente fraca por causa da intoxicação.

Pensei como me acostumei nesses dias com a falta de comida, mesmo que não fosse por vontade própria e mesmo que, nesse contexto, me estivesse fazendo mal. Mas sinto que por vontade própria pode funcionar desse jeito também, assim como temos o costume de comer demais, podemos criar o costume de comer o suficiente, de comer pouco ou de não comer. 

A ansiedade que sinto já é crônica, vivo com isso há pelo menos 15 anos e melhora um pouco e depois piora, são sempre ciclos em que nunca passa, eu nunca não to sentindo isso. Sinto que posso ter encontrado uma ferramenta pra lidar com meu maior problema, e isso me deixa muito feliz. Sinto que isso pode ser uma maneira de encontrar espaços escondidos de mim, se limpar o corpo, sentir mais leveza e ter mais fluidez no pensar e sentir. Acredito no que esse amigo me disse, em relação a questionar suas ações e pensamentos e se aproximar mais de quem se é. Já sinto que morando em outro país me aproximo mais de quem eu sou e descubro muitas coisas novas e inesperadas de mim mesmo. Agora, além de todas as outras, tenho mais uma ferramenta pra testar. 

sábado, 2 de dezembro de 2023

Coisas que não gosto na Bolívia.

Os bolivianos sempre me perguntam se gosto de morar aqui e se tem algo que não gosto; sempre digo que gosto de tudo, mas, pensando um pouquinho melhor, não é completamente verdade. Algumas dessas coisas notei já à primeira vista, outras demoraram um pouco mais pra serem elaboradas e compreendidas, mas de qualquer forma continuo gostando muito daqui. Aqui vão algumas coisas que não gosto na Bolívia:

  • Lixo
Vejo muito aqui que não se preocupam muito com o lixo. A primeira impressão é que nada se separa, colocam secos com orgânicos, recicláveis com não recicláveis, mesmo onde tem lixeiras pra separar. Mas o principal é do lixo jogado pelos lugares, tem ruas bem sujas, tem lugares que tudo fica no chão pra ser recolhido, em viagens nas beiras de estradas se vê muito espalhado no meio da vegetação. 
Mesmo nas minhas viagens a campo com a graduação pra lugares mais afastados, que a princípio são mais naturais. encontro lixo jogado no meio dos bosques e pastos. Também como se usa muuito plástico, me parece que a produção de resíduos é maior e não me parece que o planejamento pra lidar com isso é bom o suficiente, ao menos nos lugares que visitei pelo departamento de Cochabamba.
  • Trânsito
Essa foi minha primeira impressão de Cochabamba: o quão caótico é o trânsito. Em um minuto na rua já é possível notar como os carros se ultrapassam, buzinam todo o tempo, vão super rápido, não fazem sinal quando vão dobrar, não esperam os pedestres cruzarem a rua e buzinam pra que tu vá mais rápido, param em qualquer lugar, enfim, muitas coisas. Conversando com bolivianos descobri que não é obrigatório fazer aulas de autoescola. Pelo jeito agora tem aulas teóricas obrigatórias mas até algum tempo atrás não existia, e as classes de direção são optativas, se a pessoa já sabe dirigir pode simplesmente fazer a prova. Me disseram também da corrupção, tem gente que não passa no exame, paga e é aprovado. Isso me explicou muita coisa.
Se pode comprovar isso pelo visual dos carros que circulam nas ruas. Com muita frequência são batidos, amassados, com faróis queimados, vidros rachados. Já peguei taxis que não abriam uma das portas, que tinham o banco traseiro torto por estar quebrado, sem cinto de segurança (na verdade muitos não tem, quase ninguém usa), entre outras coisas. Virou até uma piada minha esses taxis, porque no vidro dianteiro sempre tem um adesivo escrito "taxi seguro" mas olhando pro estado do carro é impossível imaginar que seja realmente seguro.
O transporte público também é bem caótico. Não existem ônibus, são vans ou micro ônibus chamados trufis e também os taxi-trufi, que são carros com mais bancos em lugar de porta malas que funcionam como transporte público. Tem muitas linhas e se pode tomar em qualquer lugar fazendo um sinal, assim como também pode parar em qualquer lugar pedindo pro motorista. Isso é bem caótico porque a qualquer momento pode parar um trufi e gerar uma série de buzinaços e pessoas caminhando no meio da rua pra entrar e sair da van, porque a maioria não costuma estacionar mas simplesmente parar ali mesmo onde está. O pagamento na maioria deles se faz ao descer, já na rua e dando o dinheiro pro motorista pela janela. 
Outra coisa é que a cada dia vejo uma nova coisa que seria infração de trânsito no Brasil. Primeiro o que já comentei dos faróis queimados, carros danificados, falta de sinalização e não usar cinto de segurança. Também tem excesso de gente em um automóvel, como 2 pessoas no banco da frente, 4 pessoas no banco de trás, gente andando no porta malas, gente em caçambas, mais de duas pessoas em motos (já vi 3 adultos, 2 adultos e 3 crianças, 2 adultos e 2 cachorros...) e coisas assim. Faróis coloridos e piscantes, animais soltos nos carros, placas apagadas ou falta de placas, desobediência das sinalizações e não andar na sua faixa são mais algumas.
No começo eu tinha bastante medo de me passar algo a qualquer momento; agora já aprendi algumas coisas, como nunca confiar na falta ou presença de sinais de luz nas esquinas, olhar pra todos os lados, não atravessar uma rua faltando pouco tempo do semáforo e, principalmente, aprendi a correr, porque a maioria dos carros simplesmente não para e ainda por cima te buzina. Aprendi a, também, nunca falar nada do trânsito brasileiro.
  • Clima seco
Pra mim que vivo no sul do Brasil essa foi difícil de acostumar. Vim morar justamente na região dos vales secos interandinos, na região de puna mesofítica, onde é seco de 4 a 6 meses por ano e mesmo quando chove, continua sendo seco. No primeiro mês, meu nariz doía ao respirar e sangrava todos os dias. Minha pele, que já é seca, secou tanto que meus dedos racharam e começaram a sangrar, e meu rosto ardia e descascava até eu comprar um creme pra pele super seca e começar a usar todos os dias. Uns exemplos de quão seco é aqui são a velocidade que secam as roupas quando se penduram no varal e o fato de que eu nunca vi um alimento mofar. Nos dias que escolho mal quando lavar roupa e chove enquanto estão estendidas, no dia seguinte de manhã já estão secas como se não tivesse chovido. Sobre os alimentos, um amigo tinha um dente de alho há uns seis meses em casa e ele simplesmente secou, enquanto onde eu vivo em um mês ele estaria cheio de fungos. Agora meu nariz já se acostumou e já aprendi a usar creme pra não ficar com a pele rachando e doendo, mas no começo foi difícil e ainda sinto falta de um pouco de umidade no ar.  
  • Machismo
Essa é mais sutil e demorei pra perceber. Um dia um amigo que conhece o Brasil e já viajou pra outros países me perguntou que tal o machismo aqui e eu na hora não soube responder, mas depois disso comecei a pensar e percebi como é bem maior do que eu to acostumada a viver. Percebi que no geral as pessoas tem pensamentos bem mais conservadores e não entendem coisas que pra mim e pras pessoas que eu costumo conviver são muito óbvias. Alguns exemplos: uma vez uma vendedora perguntou onde estava meu esposo, falei que não tenho, ela perguntou por que e disse que se eu não tenho alguém no Brasil me esperando podia casar com um boliviano e ter filhos, que ela podia fazer meu casamento e a outra senhorinha poderia cozinhar; na hora foi engraçado e até bem gentil ela se oferecer pra me casar, mas nisso se nota como tem bem forte o pensamento de que uma mulher tem que se juntar com um homem e construir uma família, e que eu com minha idade já devia ter feito isso. Mesmo entre jovens percebi a predominância do pensamento da família, do casal monogâmico hétero, da fidelidade, do papel do homem e da mulher.
Teria vários exemplos, mas vou exponer mais dois. Um dia peguei uma carona com o irmão de um cara que eu tava saindo, estávamos nós três no carro e ele perguntou de onde sou sem se dirigir a mim. Meu companheiro respondeu que do Brasil, o irmão dele disse que eu não tinha mesmo acento boliviano na fala, e então seguiram conversando. Esse comportamento me soa muito com a ideia da mulher como posse do homem e que, por respeito masculino, um homem não pode se dirigir à mulher do próximo, agindo com ela como "a namorada do amigo". Me senti bem desconfortável porque ele em nenhum momento se dirigiu a mim pra saber coisas da minha vida, e depois quando falei pro meu companheiro que isso era uma marca sutil de machismo ele me disse que é porque o irmão é tímido e se constrangeu de falar comigo. Claramente é mais profundo que isso.
O outro não é exatamente um exemplo, mas percebi que aqui, nas situações que vivi e presenciei, os homens não sabem respeitar um não. Isso é bem sério. Pensam que com um pouco de insistência pode virar um sim e não entendem a seriedade das situações. Um dia tive que apelar pra legislação brasileira falando pra um cara "sabia que se a gente tivesse no Brasil eu poderia te denunciar por abuso?" pra ele parar de insistir em ficar comigo. A princípio ele riu e não levou a sério, falou que se tu é um casal com uma pessoa insistir pra passar algo não é abuso, e eu disse que sim é, que se alguém quer algo e o outro não é o não que tem que ser respeitado, sem questionamentos e sem insistência, e que desrespeitar isso de qualquer maneira é sim considerado abuso. Falando e vendo outras situações isso parece ser um pensamento geral, mesmo entre mulheres que acabam levando na brincadeira ações desse tipo. 
Claro que tudo isso também existe no Brasil, que segue sendo uma cultura bem machista, mas mesmo assim sinto que aqui é mais intenso, mesmo entre jovens do mesmo círculo social que eu.
  • O medo que nos induzem
Boto fé que Cochabamba pode ser perigoso, assim como tantas cidades, mas não gosto do tanto de medo que os bolivianos dizem que temos que ter. Dizem que tem alguns lugares que não devo ir, que tenho sempre que levar a mochila na frente, que não é pra pegar o celular na rua, que é só pra andar onde tem movimento, que não é pra ficar nas praças. Claro que é de se considerar, afinal os nativos conhecem melhor que ninguém os perigos da sua cidade, mas me incomoda como por exemplo um dia fui na cancha (o mercado público), quando cheguei em casa a abuelita que mora comigo perguntou onde fui, respondi e ela de imediato se colocou assustada e perguntou "e não te assaltaram?? Não vai lá, é muito perigoso". Bom, eu já fui lá, não duvido que seja perigoso, mas não vou deixar de ir em um lugar onde tenho que ir, e é muito ruim que induzam tanto medo de coisas que tem que ser normais como frequentar a cidade. De fato não vou ficar rateando, mas sou brasileira, também vivo em um lugar perigoso e sei me cuidar. É bom receber esse tipo de conselho sobre a cidade pra melhor saber por onde tem que tomar mais cuidado e receber umas dicas de como se portar pra estar em segurança, e entendo a preocupação e cuidado que querem ter comigo por ser estrangeira, mas é extremamente ruim e limitante ser condicionado a ter medo de um lugar a ponto de se impedir de fazer coisas pensando no que talvez poderia acontecer. 

Isso é o principal, não consigo pensar em outras coisas e também não são fatores que me tirem o quanto me encantam as terras bolivianas; apesar de serem coisas que não gosto, não diminuem o sentimento de tudo o que é bom que tem por aqui. A Bolívia é um país lindo, cheio de cultura e gente querida, onde tem muito pra ser vivido e aproveitado. Tem seus problemas como em qualquer outro lugar do mundo, o que faz parte da sua complexidade cultural e todo o histórico de desenvolvimento, fazendo com que aqui seja um lugar único com muito a ser descoberto.