Ultimamente ando perdendo muitas coisas. Uma toalha, uma touca, uma luva, um guarda-chuva, um casaco, um protetor auricular, uma série de coisas que foram ficando pelos meus caminhos. Me faz pensar sobre como sempre tive apego a objetos materiais e como sempre me foi sofrido perder algo, ficava por dias na minha cabeça aquela ausência física do objeto deixado pra trás.
Agora parece que nem faz diferença, como se as coisas tivessem perdido o valor. Mas não é como se tivessem valor e agora não considero mais, pelo contrário. Penso que o valor era eu quem colocava em coisas que não o possuíam em tal intensidade, e por isso agora viraram apenas o que são: coisas.
Lembro daquela já clássica frase que diz ser bom se perder pra poder se encontrar. Vejo um paralelo entre essas perdas simbólicas e as minhas perdas concretas, percebendo que às vezes posso ser tão concreta que preciso perder literalmente objetos pra perceber que eles não eram parte de mim. Como alguém que perdeu uma terceira perna pensando que passaria a sentir desequilíbrio, mas passa a se sentir mais leve e livre.
Nunca quis me sentir parada, mas com tantas pedras nos bolsos não tem como se movimentar. Não era possível tirar elas voluntariamente, eram todas partes de mim, mas conforme foram abrindo rasgos nas calças elas foram caindo sem deixar culpa, assim como o próprio tecido foi sendo deixado pra trás permitindo descobrir a verdadeira pele. A pele que deixa o sol queimar.
Nessas idas e vindas, deixo. Nessas voltas e retas, busco o que já tenho mas não está aqui fisicamente. A concretude da leveza que permite ir e ser, os objetos que não nos descrevem nem são partes constituintes do corpo. O corpo que em si próprio também se desfaz em metáforas e muda de formas conforme a vida anda e os caminhos são trilhados.
Estou perdendo coisas pra poder mudar e compreender que em verdade nada falta que eu já não tenha.