quinta-feira, 13 de julho de 2023

Perdas.

Ultimamente ando perdendo muitas coisas. Uma toalha, uma touca, uma luva, um guarda-chuva, um casaco, um protetor auricular, uma série de coisas que foram ficando pelos meus caminhos. Me faz pensar sobre como sempre tive apego a objetos materiais e como sempre me foi sofrido perder algo, ficava por dias na minha cabeça aquela ausência física do objeto deixado pra trás. 

Agora parece que nem faz diferença, como se as coisas tivessem perdido o valor. Mas não é como se tivessem valor e agora não considero mais, pelo contrário. Penso que o valor era eu quem colocava em coisas que não o possuíam em tal intensidade, e por isso agora viraram apenas o que são: coisas.

Lembro daquela já clássica frase que diz ser bom se perder pra poder se encontrar. Vejo um paralelo entre essas perdas simbólicas e as minhas perdas concretas, percebendo que às vezes posso ser tão concreta que preciso perder literalmente objetos pra perceber que eles não eram parte de mim. Como alguém que perdeu uma terceira perna pensando que passaria a sentir desequilíbrio, mas passa a se sentir mais leve e livre.

Nunca quis me sentir parada, mas com tantas pedras nos bolsos não tem como se movimentar. Não era possível tirar elas voluntariamente, eram todas partes de mim, mas conforme foram abrindo rasgos nas calças elas foram caindo sem deixar culpa, assim como o próprio tecido foi sendo deixado pra trás permitindo descobrir a verdadeira pele. A pele que deixa o sol queimar. 

Nessas idas e vindas, deixo. Nessas voltas e retas, busco o que já tenho mas não está aqui fisicamente. A concretude da leveza que permite ir e ser, os objetos que não nos descrevem nem são partes constituintes do corpo. O corpo que em si próprio também se desfaz em metáforas e muda de formas conforme a vida anda e os caminhos são trilhados. 

Estou perdendo coisas pra poder mudar e compreender que em verdade nada falta que eu já não tenha.

sábado, 8 de julho de 2023

Afeto.

Sinto o afeto transbordando, sem medo nenhum de entrar no oceano que é compartilhar isso com o outro. E que outro, pode ser um qualquer desde que retribua. Alguém que se transborda também e viramos correnteza de carinhos. Onde isso vai levar não importa, e a intenção é que não leve a lugar nenhum além do caminho percorrido no momento do afeto, quando os corpos se acariciam como se fossem velhos conhecidos, mas sem nunca se terem cansado um do outro. Quando os pés se encostam, as costas esquentam um peito, os dedos movem na nuca e os braços apertam forte um corpo pela primeira vez, num abraço cheio de amor e felicidade. A completude momentânea de se deixar levar pela espontaneidade, mesmo que não se conheça, e mesmo que nem vá se conhecer, sem o medo de criar ilusões de um romance que não é desejado. 

Que o amor não seja exclusivo de um romance concreto, mas passível de ser compartilhado com conforto, respeito e reciprocidade; que seja um vento morno de aconchego e tranquilidade nas peles e corações abertos.