Não quero acreditar em segundos. Como querer acreditar em algo tão intensamente violento? A suposta existência dos segundos faz com que eles sejam considerados como entidades reais, que nos apressam ou fazem esperar - apesar de mais apressarem.
Parece que minha vida passou a ser pior quando comecei a me importar mais com segundos e minutos, ou melhor, quando percebi que segundos e minutos eram cobranças. Mas que diferença faz chegar em algum lugar aos 29, 30 ou 31 minutos de algum horário? E a diferença real de 40 pra 45? No fim, acaba sendo uma violência pra mim; perco parte da minha paz pra, por 20 segundos, não deixar passar dos 59 pros 00, sendo que mesmo que eu demore dois minutos não vai ter diferença alguma. Mas o que importa não é a diferença real, mas a inventada, e a ansiedade de quem espera, que já está ansiando mesmo aos 54.
Saber o horário suposto em que um ônibus vai passar, observar o semáforo perdendo números até mudar de cor, fechar os olhos às 7:58 porque o despertador toca só às 8 em ponto, sabendo que vai se assustar ao ouvir. Sendo que dois minutos antes o corpo estava mais descansado e disposto do que depois de esperar, atentamente, deitado na cama, o toque estimulante e estressante de tons definidos por empresas de aparelhos eletrônicos.
O único tempo que, pra mim, devia existir, é o natural do dia e da noite, e o ano poderia também ser dividido apenas pelas estações. Todo o resto da temporalidade é inventada e, pra mim, violenta na medida que nos impõe algo que temos que acreditar independentemente da vida que desejamos. Não quero ter cinco dias de trabalho e dois pra descansar, não quero a obrigação de sair de casa num temporal, ainda mais correndo de pés molhados pra não perder o horário.
A violência temporal nos é imposta de segundo em segundo. A resistência é manter o passo lento, o respirar suave e o olhar no céu.