Recentemente ando pensando que minha força de vontade é muito baixa porque não consigo pensar uma coisa e fazer, não consigo alcançar as metas de regularidade e de mudanças que me proponho. Nisso entra diminuir doces e estimulantes como a erva mate, fazer exercícios com alguma frequência, meditar, enfim. O primeiro ponto é que me proponho coisas demais, mais do que me é possível realizar, o que exigiria muito mais energia do que a que tenho, já que parto dizendo que minha força de vontade é fraca. Mas mesmo com menos coisas, não rola... ando pensando e experienciando sobre isso e descobrindo coisas interessantes.
Uma das coisas que me fez pensar foi a prática de jejum que comecei, irregularmente, a fazer. Parece que tudo que me proponho vira um compromisso, e, com isso, uma obrigação. Jejum é algo que me faz sentir bem, é uma prática pra trazer benefícios, mas acabou me trazendo ansiedade por acordar e sentir como que uma proibição em comer, e também uma dúvida em se hoje vou me manter sem alimento ou vou comer normalmente. Essa dúvida, como o nome diz, me deixa em confusão, e com confusão a ansiedade, e com a ansiedade a vontade de comer, mas sentindo que tenho um compromisso em evitar isso... e tudo vira uma prisão. Algo que era pra ser bom toma uma conotação negativa.
Quem tá me julgando, quem tá me culpando, quem tá me obrigando? A resposta é clara: ninguém. Então por que, mesmo assim, é tão difícil? Me coloco uma rigidez que não preciso, e percebo que tenho dificuldade não só em manter regularidades, mas, principalmente, em saber flexibilizar. Parece que o que me proponho toma um aspecto rígido, e, sendo rígido, passível da dualidade do certo e do errado. E, se dá errado, o óbvio é simplesmente deixar de fazer.
Uns anos atrás fiz um curso que, ao final, nos propunha uma prática por 21 dias seguidos. Tentei, mas já na primeira semana falhei um dia e, como diz aquela dos jovens, de aí pra frente só pra trás, ou seja, falhei um, muito mais fácil falhar outros do que retomar a regularidade proposta. Mas por que tem que ser assim? O que percebo que sempre senti, ou que usei como uma desculpa pra não me esforçar o suficiente e não exercitar minha força de vontade, é que já estraguei tudo, já fiz errado, então não adianta mais. Mas essa é a resposta mais fácil e a que menos parece ter sentido...
Esses dias comecei um tratamento que demandava 15 dias de regularidade, mas em dia sim, dia não. Mais fácil então, a prática já propõe assim de primeira que se falhe. Falhei alguns dias, deixando dois não, um sim em alguns momentos, mas não desisti. Percebi que o mais importante é o seguimento, mesmo que irregular, do que a desistência que te faz voltar pra onde tu tava antes de iniciar, ou seja, com o desejo de mudar algo. Vinha o pensamento de que ia dar errado, mas o julgamento e a culpa eram minhas pra mim mesma e, finalmente, consegui suavizar um pouco isso.
Um Exu falou comigo há poucos dias atrás. Falando de algo que ele me disse pra fazer todos os dias antes de dormir, acrescentou que se a nega não fizer todos os dia não tem problema, porque a nega pensa que é assim né? Não vai dar errado porque a nega não faz todos os dias porque não tem ninguém pra dizer se tá certo ou errado além da nega. E é, pois é... sou exatamente assim. Por que tanta rigidez?
E isso tudo me traz pra como as pessoas são diferentes... Tem gente que precisa se enrijecer, porque é muito solto, então o exercício da regularidade estrita é muito eficiente e benéfico. Mas tem outras pessoas que precisam suavizar, porque são muito rígidas. Pra mim, o importante não é manter a rotina, mas sim aprender que a rotina pode não ser mantida e tá tudo bem, segue sendo uma rotina em potencial, e isso é importante. Sei que vou falhar, e não é exatamente porque minha força de vontade é fraca... Talvez é justamente por ser muito forte e dual. To aprendendo que mais importante é evitar a intensidade e trabalhar pelo que é leve e suave, e que a única pessoa que me julga, culpa e obriga sou eu, mas que não preciso fazer isso. Provavelmente vou seguir fazendo, afinal, são longos processos... Mas o processo é pra seguir o caminho, e não pra chegar no final.